ENFOQUE SISTÊMICO (SISTEMISMO) - Por Edson Paim & Rosalda Paim
Extraído do Livro "SISTEMAS, AMBIENTE & MECANISMOS DE CONTROLE" - 1a. Edição
ENFOQUE SISTÊMICO (SISTEMISMO)
Edson Paim
Rosalda Paim
Um problema fundamental da ciência contemporânea é o da teoria geral da organização.
- um sistema físico que vai do átomo ao Universo físico;
- um sistema biológico - desde o vírus até ao homem;
- um sistema social - a partir da família até a sociedade planetária.
- um sistema tecnológico - iniciando com a flecha (ou outro instrumento ainda mais primitivo) até se chegar ao computador, foi como proposto por Bertalanffy, mas nós podemos substituir este termo por uma das expressões: complexas usinas computadorizadas ou mesmo, por engenhos espaciais;
Com fundamento nesta síntese, é possível abordarmos, através de uma perspectiva sistêmica da Ecologia, o próprio ambiente - este também um sistema - o qual circunda uma pessoa - sistema humano - ou quaisquer outras modalidades de sistema.
Igualmente a qualquer outro tipo de sistema, o ambiente (sistema ambiental ou ecossistema) é constituído por subsistemas.
“Um sistema é um conjunto de objetos junto com as relações entre os objetos e seus atributos. 9”
“La naturaleza puede estudiarse por medio de nuestra elección arbitraria de cualquier porción de materia de universo; esto le llamamos un sistema. Un sistema cualquier más sus alrededores, es igual a la totalidad del universo.10”
Sistema é “qualquer agregado reconhecível e delimitado de elementos distintos que estejam de alguma forma interligados e interdependentes e que continuem a operar juntos de acordo com certas leis e de tal forma a produzir algum efeito total característico. Um sistema, em outras palavras, é algo relacionado com algum tipo de atividade e dotado de uma certa integração ou unidade; um sistema particular pode ser reconhecido como distinto de outros sistemas com os quais, no entanto, pode estar dinamicamente relacionado. Os sistemas podem ser complexos, podem estar formados por subsistemas interdependentes, os quais, por sua vez, embora com menos autonomia do que o agregado total, podem ser diretamente distinguidos durante as operações11”.
A idéia de sistema dá uma conotação de plano, método, ordem, arranjo. O antônimo de sistema é caos. … O conceito de sistema involucra o de lei e o de efeito, de resultado. O conceito de sistema é, por conseguinte, um conceito dinâmico12.
Excetuado o Universo, o qual corrresponde a um sistema fechado, todos os sistemas, nele existentes, são abertos, uma vez que, através e, entre eles, circulam fluxos de matéria, energia e informações.
A interação entre o sistema e o seu ambiente é efetuada através de trocas.
Estes intercâmbios podem ser sintetizados como “trocas de matéria, energia e informações”.
“Os sistemas são constituídos de conjuntos de componentes que atuam juntos na execução do objetivo global”. O enfoque sistêmico é simplesmente um modo de pensar a respeito dos sistemas totais e seus componentes. Todo ser vivo pode ser considerado como um sistema. A característica vida nos permite colocá-lo na linha dos sistemas biológicos. A vida está inserida num meio físico, num meio não vida, a natureza. Um organismo vivo, como sistema biológico, está inscrito num sistema maior, o ecossistema. O ser vive em função do ecossistema e, enquanto as condições deste permitirem a sobrevivência do ser. Ultrapassadas as condições, o ser morre e sua substância passa a integrar a natureza do ecossistema. O fenômeno vida de um ser é, pois um episódio temporário no ecossistema. …Nos sistemas mais complexos, a diferenciação filogenética, operando em uma dimensão de milhões de anos, produziu sistemas orgânicos de extrema complexidade, com uma grande divisão de trabalho entre subsistemas, tal como o que se pode observar nas espécies animais atuais.14”
Igualmente à Teoria Geral dos Sistemas, também o Estruturalismo enfatiza a idéia de sistema e a de relações entre os elementos integrantes de uma estrutura, havendo, portanto, um parentesco próximo entre este e o Sistemismo.
A avaliação dos resultados possibilita o controle ou reajuste do sistema, bem como do respectivo processo, através do mecanismo de retroação (“feedback”), atributo fundamental da Cibernética, mediante o concurso da Teoria da Informação, sobretudo, porque na ausência de informações, é impossível a existência de mecanismos de controle.
“Constantemente é a teoria dos sistemas identificada com a cibernética e a teoria do controle, o que é incorreto. A cibernética, enquanto teoria dos mecanismos de controle na tecnologia e na natureza, fundamentada nos conceitos de informação e retroação, é simplesmente uma parte da teoria geral dos sistemas. Os sistemas cibernéticos representam um caso particular, embora importante, dos sistemas que apresentam auto regulação16”.
“Todo processo de avaliação deve de ser contínuo, e os critérios, nos quais se fundamenta, são fixados nos propósitos, para possibilitar a aferição da efetividade ou eficácia com que os resultados alcançados satisfazem aos propósitos do sistema. A retroação negativa (“feedback”), de um modo geral, permite conservar certas variáveis, dentro de determinados limites, constituindo o principal dispositivo a serviço da homeostasia. Representa uma retroação reguladora e conservadora da estrutura existente. Qualquer grandeza pode ser submetida ao controle se três condições forem satisfeitas. Primeiramente, necessitamos de um órgão regulador, capaz de processar as mudanças necessárias. A seguir, a grandeza a ser controlada, precisa ser mensurável, ou pelo menos comparável a um padrão, ou seja, necessita haver um dispositivo medidor. Finalmente, a regulação e a medição precisam ser suficientemente rápidas. A regulação pelo "feedback" pressupõe que o sistema tenha uma meta que será determinada pela configuração de suas variáveis internas em relação às variáveis externas. A grandeza a ser regulada pode ser desde a entrada de vapor numa caldeira até o grau de anestesia de um paciente numa operação cirúrgica. 18”
Processo consiste na dinâmica, funcionamento do sistema considerado ou, o conjunto de procedimentos cuja finalidade é a consecução dos propósitos ou metas de um sistema ou, de cada um dos seus subsistemas que o constituem.
Conseqüentemente, o processo corresponde à “fisiologia” do Sistema.
Os aspectos centrais de um sistema são: Propósitos (ou goals), conteúdos e processos.
Um sistema pode ser identificado a partir dos seus propósitos, ou seja, do que se pretenda realizar.
Exemplificando com o caso do sistema de saúde e/ou seu subsistema de enfermagem, seria plausível afirmarmos que os propósitos de ambos é a busca de maior eficiência e eficácia na assistência integral à saúde do paciente (cliente), à família, à comunidade e a sociedade.
A análise dos Propósitos é capaz de nos permitir derivar Conteúdos (componentes) essenciais que, integrados por meio de Processos, possam contribuir para a obtenção dos Propósitos.
O objetivo da teoria geral dos sistemas é a formulação de princípios que sejam válidos para os “sistemas” em geral, independentemente, da natureza dos elementos componentes e das relações ou “forças” existentes entre eles. É, conseqüentemente, uma ciência geral da “totalidade”.
“Os principais propósitos da teoria geral dos sistemas são”:
l. Há uma tendência geral no sentido da integração das várias ciências, naturais e sociais.
2. Esta integração parece centralizar-se numa teoria geral dos sistemas.
3. Esta teoria pode ser um importante meio para alcançar uma teoria exata nos campos não físicos da ciência.
4. Desenvolvendo princípios unificadores que atravessam “verticalmente” o universo das ciências individuais, esta teoria aproxima-nos da meta da unidade da ciência.
5. Isto pode conduzir à integração muito necessária na educação científica. 21”
O Sistemismo, além enfatizar as relações entre as partes do todo, inclui a idéia de totalidade, estabelecendo um ponto de contato com o Gestaltismo (Teoria da Forma).
Esta postura se contrapõe ao fragmentarismo da Psicologia Psicofísica, consubstanciado na tendência de resolver fatos de consciência por meio de elementos últimos (as sensações, as emoções elementares e os reflexos ou instintos elementares) e, explicar os fenômenos mais complexos mediante a combinação de tais elementos (atomismo e associacionismo).
O Gestaltismo, Psicologia da Forma ou Psicologia Gestáltica assesta todas as suas baterias sobre um dos princípios reducionistas da Psicofísica - o atomismo e o associacionismo (características fundamentais, extraídas do empirismo inglês).
Assume o Gestaltismo, em conseqüência, um ponto de vista simetricamente oposto, que consiste em postular que o fato fundamental da consciência não é o elemento, mas a forma total, uma vez que esta é irredutível ao somatório ou a combinação dos elementos constituintes.
O Gestaltismo postula que um dos princípios
O Funcionalismo e o Sistemismo têm sido considerados, por alguns autores, como sendo duas metodologias associadas e complementares, as quais costumam ser designadas, em conjunto, como Sistemismo/Funcionalismo.
Os conceitos de totalidade, abrangência, globalidade, integração, síntese, universalidade e de relações entre as partes do todo são conteúdos, suficientemente claros, no contexto da Teoria Geral dos Sistemas, constituindo mesmo, seu apanágio, reforçados pelo parentesco com as disciplinas referidas.
Em razão de sua maior abrangência, é possível afirmar que o Sistemismo supera todas estas correntes de pensamento, o que o torna capaz de abarcar muitos dos conceitos daquelas disciplinas, isto quando não lhe sejam contraditórios.
Em virtude dessas semelhanças e confluências, é evidente e inegável a existência de uma ruptura das fronteiras conceituais no que tange ao Gestaltismo (Teoria da Forma), Estruturalismo, Funcionalismo e Sistemismo.
De maior abrangência, ainda, se transforma o Sistemismo, quando considerarmos os três primeiros, juntamente com a Cibernética e a Teoria da Informação, como complementares ou integrantes desta metodologia.
O Funcionalismo ou Psicologia Funcional representa uma das correntes fundamentais da Psicologia.
Ele considera que o objeto da Psicologia não é um fato de consciência, mas que consiste em funções ou operações do organismo vivo, as quais se constituem como unidades mínimas indivisíveis e, através delas o organismo estabelece relações com o ambiente.
É de se ressaltar a impossibilidade de se considerar os elementos de uma determinada função como entidades autônomas e independentes das relações de que participam.
O Funcionalismo teve início com uma obra de Dewey, na qual este afirmara categoricamente que o arco reflexo não poderia ser dividido em estímulo e resposta, mas deveria ser considerado como uma unidade, em que o estímulo e a resposta, considerados em seu conjunto, são capazes de auferir significado.
O Funcionalismo tem em comum com o Gestaltismo o mérito do abandono do terceiro princípio da Psicofísica que consiste no atomismo e no associacionismo.
A principal novidade do Funcionalismo é o probabilismo, o qual consiste em negar aos procedimentos da ciência, mas também, a todas as funções cognitivas humanas (inclusive a percepção imediata), o caráter de certeza e infalibilidade e, em atribuir a todas essas funções a possibilidade de atingirem uma validade, apenas, provável.
Em razão de tal probabilismo, o Funcionalismo foi capaz de introduzir a Psicologia no campo das idéias fundamentais da ciência contemporânea, com a adoção do paradigma imposto pela física moderna, em substituição ao modelo mecanicista da física clássica
Mercê do seu parentesco com as disciplinas referidas, a abrangência da TGS e, conseqüentemente, a metodologia dela derivada, o Sistemismo, se tornam, não apenas, ampliada, mas reforçados os seus conteúdos, face às virtuosidades dos atributos das referidas ciências.
Não obstante a Teoria Geral dos Sistemas (Sistemismo) avocar para si o papel de uma ciência da totalidade, globalidade, abrangência e de síntese, a par da buscar se tornar uma ciência das ciências ou, até mesmo, a ciência das ciências, é possível constatar que essa metodologia se apresenta, ainda, prenhe de certo reducionismo.
Verifica-se que, não poucas vezes, estudos realizados, pretensamente, através da abordagem sistêmica, apresentam, ainda, um viés fragmentário, limitativo, porquanto dissociados do exame das condições reinantes no seio do ambiente do sistema, desconsiderando, portanto, os reflexos recíprocos que ocorrem entre um e outro, os quais, sempre, se afetam mutuamente.
Isto tem suas raízes no fato de que, no Sistemismo clássico, os fundamentos, idéias, conceitos e princípios, apesar de amplos, nele não está, ainda, suficientemente explícita a exigência de que o estudo abarque, também, o ambiente em que tal sistema está inserido, só o fazendo de forma implícita.
Em suma, qualquer trabalho que não inclua a abordagem do ambiente do sistema em estudo será considerado limitativo, fragmentário, reducionista, insuficiente, tendo em vista a não inclusão dos reflexos dos obrigatórios intercâmbios (de matéria, energia e informações), ocorrentes entre ambos, que resultam em ações e interações recíprocas, afetando-os, mutuamente.
No capítulo III, cuidaremos de sanar estas deficiências, estas lacunas da Teoria Geral dos Sistemas (Sistemismo), quando utilizada, sem o concurso de outras disciplinas.
Com base no Enfoque Sistêmico, formulamos o:
Princípio do Universo Sistêmico
- um sistema físico que vai do átomo ao universo físico;
- um sistema biológico - compreendendo desde o vírus até ao próprio homem;
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